"Eu não acredito nestes tipos, em alguns destes tipos, porque são equívocos, porque lutam pelos seus interesses, porque têm o seu gangue, porque têm o seu clube, porque pressionam a comunicação social, o que significa que os anteriores, que foram tão atacados, eram uns anjos ao pé destes diabinhos negros que acabam de aparecer."
Bispo Januário Torgal Ferreira
(Entrevista na TVI, 18/7/2012)
Não é a primeira vez - e decerto não será a última - que o bispo das Forças Armadas tece duras críticas ao Governo de turno: foi assim com o de José Sócrates e é agora com o de Pedro Passos Coelho /Paulo Portas.
Então qual é a diferença? Penso que, substancialmente, nenhuma. Só que , enquanto criticou um Governo mais à Esquerda , a Igreja não achou razão para se demarcar das suas censuras. Mas logo que se pronunciou sobre um executivo de Direita , a Conferência Episcopal fez questão de deixar bem claro o seu afastamento ( o que em última análise, pode revelar o seu apoio à actuação governativa).
Aguiar Branco, ministro da Defesa, muito ofendido, exigiu provas das acusações e que o bispo decidisse se queria ser bispo ou comentador político.Como se o silêncio da Igreja sobre a actuação predadora deste Governo não fosse , ele também , político.
E não é o papel da Igreja defender os mais pobres, os mais vulneráveis, os mais desfavorecidos?
Oficialmente é! Só que ao longo de toda a sua existência de mais de dois mil anos, a Igreja enquanto instituição (exceptuando João XXIII e João Paulo I) aliou-se sempre a todos os poderes e justificou-lhe todas as infâmias.
Além das barbaridades que ela própria praticou e continua a praticar. Como , só por exemplo, a pedofilia, protegendo os criminosos e abandonando as vítimas.
Consequentemente , Januário Torgal Ferreira limitou-se a cumprir o seu papel face a um Governo que não toca em quem tem riqueza e poder (caso das grandes fortunas, das Parcerias Público - Privadas, das rendas excessivas) mas que esmaga com impostos, aumentos do custo de bens essenciais e anulação de direitos a classe média .
Fez política? Por ser bispo, não deixa de ser um cidadão. E talvez mesmo por ser ambas as coisas, maior é a sua responsabilidade.
Mas, claro, é mais fácil o silêncio cúmplice:
quem não se lembra do exílio forçado de António Ferreira Gomes, bispo do Porto, sob a ditadura de Oliveira Salazar e com a total conivência do seu dilecto amigo Manuel Gonçalves Cerejeira, cardeal patriarca de Lisboa?