" Em 2010, a burguesia é essencialmente a mesma que existia na ditadura, reforçada com alguns potentados emergentes e com poucos recém-chegados recrutados nas elites ministeriais e que demonstraram zelo inexcedível.
A economia portuguesa sempre foi um território de desigualdade extrema que se vem agravando. Estes donos de Portugal dominaram sempre mais de um terço do produto português e, assim, dirigem a rede social da acumulação de capitais. O seu predomínio na economia e a sua parceria com o Estado articulam toda a economia, e a estrutura empresarial do país inteiro depende dessa liderança.
Essa desigualdade é organizada pelo Estado, que é o produtor da burguesia portuguesa. É sempre o Estado, fosse ele ditatorial ou não, que protege, que seleciona, que ampara, que financia,que organiza o monopólio, que paga a renda. A importância estratégica do rotativismo político está aqui: é assim que se assegura a estabilidade desta ordem de desigualdade. O Estado é a estratégia.
Estas empresas dominantes nos últimos cem anos são propriedade de algumas famílias que são essencialmente a mesma família. Este mundo é muito pequeno. Numa palavra, a burguesia portuguesa é uma família de famílias , com os Mello ao centro.
Existe um processo assinalável de mobilidade social ascendente que permite o acesso restrito a este Olimpo: é o de quem inicia carreira num partido ou no Governo para depois entrar numa administração de empresa ou lugar de enriquecimento garantido.
A burguesia portuguesa foi sempre incapaz de democratizar a modernização do país.
Os donos de Portugal são o problema de Portugal."
"OS DONOS DE PORTUGAL - Cem Anos de Poder Económico (1910-2010)