" Um povo imbecilizado e resignado, burro de carga, aguentando vergonhas, misérias, sem uma rebelião, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai. Um povo que eu adoro, porque sofre e é bom, e que guarda na sua inconsciência um lampejo da alma nacional. Uma burguesia cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavra, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública, capazes de toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam , entre a indiferença geral , escândalos monstruosos. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo. A justiça ao arbítrio da política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas. Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao ou...