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Dois dos advogados ligados ao processo Casa Pia |
Vi ontem o programa "Prós e Contras", no primeiro canal da RTP, da responsabilidade de Fátima Campos Ferreira e com a presença de António Marinho Pinto(Bastonário da Ordem dos Advogados), Rui Rangel (juiz), Daniel Oliveira e José Manuel Fernandes ( jornalistas).
O tema era , mais uma vez, o caso Casa Pia. Mais precisamente a análise das sentenças.
Estavam também presentes Bernardo Teixeira(uma das vítimas), Adelino Granja(advogado da vítima "Joel" e antigo casapiano), Álvaro Carvalho , psiquiatra que acompanhou as vitimas e Carlos Cruz ( condenado a sete anos de prisão).
Assumo que há coisas que ultrapassam a minha capacidade de entendimento. O que se está a passar com este processo é uma delas.
Não consigo perceber o tempo de antena dada aos condenados, com especial incidência a Carlos Cruz. Nunca isto se viu em qualquer outro processo.
Não entendo porque só neste processo se levantam dúvidas e questões porque houve uma súmula ( ainda por cima acordada entre as partes) e não foi entregue uma cópia aos sentenciados do Acórdão, a efectuar-se amanhã, sem prejuízo dos direitos de recurso.
Francamente, senti-me completamente defraudada com o programa pelos motivos que passo a expor:
- Fátima Campos Ferreira aceitou fazer mais um frete, na medida em que a discussão não poderia deixar de ser especulativa, já que ninguém conhece o Acórdão, pelo menos oficialmente. E gostaria de saber porque foi novamente Carlos Cruz e não outro dos condenados (Carlos Silvino, por exemplo) a ter tempo de antena. A minha perplexidade tem razão de ser porque o apresentador esteve num debate da RTP no dia mesmo da sentença e estará na próxima quinta-feira na "Grande Entrevista", programa de Judite de Sousa na RTP.
- Marinho Pinto, naquele seu estilo abrupto, entrou em deriva delirante e produziu uma série de afirmações espantosas, que foram desde considerar as penas demasiado pesadas a considerações pessoais sobre pessoas ausentes passando por conflitos abertos com alguns dos intervenientes. Além disso, afirmou que não é em nome das vítimas que a justiça é feita, mas sim em nome da sociedade. Aliás, deu(-me) a clara impressão de estar a favor dos agressores e não das vítimas.
- Carlos Cruz , em flagrante desrespeito pela Lei, afirma que continuará a sua denúncia pública do que afirma ser uma "monstruosidade judicial". Pelo que continuará a colocar no seu site, peças processuais e a fazer tudo quanto lhe der na real gana. A manipulação que fez do que disse Bernardo Teixeira foi desmontada exemplarmente pelo pisiquiatra.
Ressalto o desempenho de Bernardo Teixeira, pela compostura e sensatez das declarações. Mais ainda de admirar pela sua juventude (23 anos) e pela duríssima história de vida que carrega. Tenciono ler o livro que editou recentemente: "Porquê a Mim?".
Adelino Granja, que foi um dos alunos a denunciar a Ramalho Eanes a dramática situação vivida na Casa Pia, exige responsabilidades a Teresa Costa Macedo, Secretária de Estado na altura e que nada fez para acabar com o horror vivido na instituição. Poderia exigi-las a todos os Governos desde a ditadura até à democracia, desgraçadamente!
Fiquemos aguardando os próximos episódios, porque o assunto não se queda por aqui. Infelizmente e ao contrário daquilo que é o desejo das vítimas.