Em 2008, realizei, por fim, um dos meus sonhos maiores: viajar até à Terra Negra e conhecer as marcas fabulosas deixadas por uma civilização milenar e sábia.
Não fiquei defraudada com a magnífica monumentalidade das pirâmides, do Vale dos Reis, dos templos de Hatshepsut, Abu Simbel, Karnac e Luxor.
E navegar pelo Nilo de Assuão até Luxor (antiga Tebas) foi uma experiência inesquecível, pois além da paisagem, pudemos apreciar o templo de Hórus em Edfu( o mais bem conservado do país) e o templo duplo de Kom Ombo( único conhecido dedicado a duas divindades).
Mas ficaram também gravadas em mim, imagens de miséria, de um modo de vida completamente diferente do ocidental.
Ao descer sobre o aeroporto, logo da janela do avião se tornou clara a baixa qualidade dos prédios da periferia da capital e a sua incrível proximidade do deserto.
No Cairo, a prova mais evidente de pessoas vivendo em condições impensáveis , tive-a na visita feita ao cemitério de pessoas abastadas, onde famílias inteiras vivem nos túmulos em troca de cuidarem dos mortos lá depositados.
Além de tudo isto, o povo egípcio acredita ter sido Mubarak o responsável do assassinato de Sadat e vive em regime de excepção há mais de três décadas.
Como sempre, os EUA têm dado milhões para a organização do exército, preocupando-se exclusivamente com um equilíbrio de forças na região, mesmo que as populações (sobre)vivam nas mais humilhantes condições.Escusado será sublinhar que a razão desta preocupação é Israel,que sintomaticamente pediu aos países europeus e aos EUA que abrandassem as críticas a Mubarak.
A sensação que temos ao passar pelas aldeias paupérrimas ladeando o Nilo é que recuámos ao tempo dos faraós!
Consequentemente, esta rebelião decorrendo agora nas principais cidades egípcias não me surpreende de maneira alguma.
Acho lamentável e de má -fé que se invente estar o Irão fomentando estas desordens nos países pró-ocidentais. Só pode crer nisso quem nunca tiver ido ao Egipto.
Espero pois que a oposição, que já designou porta-voz e negociador, consiga fazer uma transição pacífica para um regime democrático.
Esperemos que a Irmandade Muçulmana não apareça com o designío de fundar ali um Estado religioso e extremamente conservador.
Ao sustentar estes regimes de ditadura, o Ocidente só fortalece a Oposição, que até pode ser efectuada por movimentos de raiz religiosa. Com os perigos daí decorrentes.
Que se aprenda a lição, pelo menos!
Que se aprenda a lição, pelo menos!