"Nu Entre Lobos" passa-se no Campo de Concentração de Buchenwald e conta, baseado em factos reais, a história de como entrou no Campo ,sendo depois protegida pela rede clandestina de resistência organizada dos prisioneiros, uma criança muito pequena.
Bruno Apitz(1900-1979), o autor da obra, de nacionalidade alemã, cumpriu dois anos de prisão , na Primeira Guerra Mundial, por ser pacifista.
Assim que Hitler chegou ao Poder, foi preso por ser militante comunista desde 1927, sendo enviado três anos mais tarde como trabalhador escravo para a construção do referido Campo, onde esteve durante toda a existência deste e de onde saiu, com os últimos prisioneiros, em 1945.
O romance é muito interessante porque foca a maneira como os presos conseguiram montar uma organização de resistência sem preocupações de nacionalidade nem de crenças religiosas, a rede de ligações, a hierarquia, as cumplicidades, os subterfúgios com que iludiam os carrascos.
Tudo se complica quando na chegada de um comboio , chega a criança - dentro de uma mala de viagem trazida por um dos presos.
Vêm ao de cima o cumprimento rigoroso da disciplina, fortes problemas de consciência,o risco enorme ao protegerem a criança.
E tudo suportam porque os nazis , apesar de saberem a guerra perdida, não deixam de torturar nem de matar . Nalguns casos, arrastando consigo em penosas e longas marchas forçadas de um campo de extermínio para outro quem os ocupava , provocando a morte por exaustão ou puro assassinato de largos milhares de pessoas.
A obra foi adaptada ao cinema e ao teatro, por exemplo, além de ser traduzida em dezenas de línguas.
Recomendo a sua leitura, até porque nos lembra que podemos sempre resistir e conservar a nossa dignidade e a nossa bondade. Mesmo em condições muitíssimo difíceis, porque - ao contrário do que é agora moda afirmar - existe sempre alternativa.
"«Ah, tu não perceber alemão. Nós vamos-te dar umas lições de alemão, Kropinski.»
Reineboth tinha propositadamente agarrado o polaco em primeiro lugar. Queria que Hofel visse.O corpo nu ficou como que aparafusado no cavalete. Depois o tormento começou. Os chicotes de Reineboth e Mandrill silvavam e os golpes sucediam-se. O sangue espirrou e correu pelas coxas abaixo. Os golpes seguintes acertaram em cheio na carne viva. Kropinski desmaiou. Reineboth olhou para Hofel para ver a sua reacção. Este estivera todo o tempo rígido e hirto. O seu rosto estava petrificado de horror. Reineboth ficou satisfeito com isso, deu-lhe com a vergasta ensanguentada uma pancadinha no peito e apontou para o cavalete. Com as pernas rígidas, Hofel avançou alguns passos, e os Blockfuhrers* agarraram-no e estenderam-no em cima do cavalete."
* Blockfuhrer - baixo funcionário SS , supervisor de Bloco.
Falta-me coragem para ler mais uma obra sobre as atrocidades da guerra.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Parabéns pelo novo layout
Conhecia já a frase!
ResponderEliminarQuanto ao livro talvez arranje coragem para o ler!
Claro que temos sempre alternativas!
Abraço
Para ler esse livro tenho de estar numa disposição especial, pois nem sempre consigo ler sobre todas essas atrocidades, sem que isso me afete demais! Emocionar e comover faz parte, mas de momento passo bem sem a angústia extra! Mesmo assim, obrigada pela sugestão! :)
ResponderEliminarBeijocas!
Relatos destes são difíceis de ler mas despertam-nos para as realidades da História que não podem ser esquecidas.
ResponderEliminarAbraço do Zé
Este livro , acho-o importante porque nos fala de uma faceta menos conhecida : a das redes de resistência que os prisioneiros /as montavam nos Campos e que , de algum modo, conseguiam , por vezes, gorar as intenções dos nazis.
ResponderEliminarEstou cansada de ler coisas sobre os judeus, como se fossem as únicas vítimas de Hitler. Não consigo perceber como é que os próprios judeus não se lembram das pessoas de todas as nacionalidades, crenças e idades foram gaseadas e cremadas.
Em Birkenau( Auschwitz II) , numa só noite, foram assassinados milhares de ciganos, em famílias inteiras!
E agora vamos ter outro ataque à Síria igual ao que aconteceu no Iraque e assim se vai construindo o objectivo da extrema-direita sionista: a reconstrução do Grande Israel!
Tudo de bom
TETÉ. o livro é duro, sim.
ResponderEliminarMas sai daquele tema habitual de os judeus aparecerem sempre como exclusivas vítimas - como se não houvessem milhões de outras e as primeiras tivessem sido as pessoas deficientes alemãs .
Dá uma nota de esperança, na medida em que mostra ser sempre possível lutar e , no fim, até acaba bem, isto é, com a salvação da criança e a derrota dos nazis.
mas compreendo perfeitamente que não seja o livro mais indicado para os momentos que vivemos e em que acaba de ser noticiada a morte de um dos bombeiros internados(Paz à sua alma!)
Tem bom dia.
E mais vale morrer lutando do que nos deixarmos abater sem resistência.
ResponderEliminarO interesse do livro é o de fugir ao omnipresente holocausto e tratar de outras facetas do que foi o horror de se (sobre)viver num campo de concentração, sem condições de espécie nenhuma e sob a ferocidade nazi.
Bom resto de dia, ROSA
DE facto o livro relata atrocidades, mas foge do tema comum, isto é, da perseguição aos judeus e monstra como, em qualquer circunstância, podemos resistir e isso é uma nota de esperança sempre presente em todo o livro, até porque Hitler foi derrotado e a criança é salva.
ResponderEliminarGrato beijo, rrss
Vou procurar ler!
ResponderEliminarAbraço
OI SÃO!
ResponderEliminarCADA VEZ QUE SE LÊ, OU VÊ UM FILME SOBRE O HOLOCAUSTO NOS APAVORAMOS E FICAMOS COM O CORAÇÃO, CONFRANGIDO, PELAS BARBÁRIES QUE SE NOS SÃO MOSTRADAS.
VOU VER SE TEM O FILME, FIQUEI INTERESSADA, SE NÃO CONSEGUIR TENTAREI LER O LIVRO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
O pior , sabe, é que estas atrocidades continuem sendo cometidas e que Israel tenha feito de Gaza um campo de concentração a céu aberto, sem condições e onde os palestinianos não têm direitos.
ResponderEliminarImpossível esquecer os massacres de palestinianos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila!!
Bons sonhos
Lei, porque penso que gistará, pois , pelo menos, demontra que se pode sempre resisitir e que não foram só judeus as vítimas dos alemães!
ResponderEliminarBons sonhos, LINO
Já me tinham falado desse livro, mas não tive ainda coragem para o comprar, porque há temas a que hoje em dia sucumbo com facilidade.
ResponderEliminarA mim foi-me emprestado por um amigo, juntamente com outro de Joseph North:"Nenhum Homem é Estrangeiro".
ResponderEliminarSó que, como outro amigo meu (que foi professor em Timor e , dada a péssima situação aqui, poderá regressar)me recomendou "A Ilha das Trevas" eu comprei-o e já o comecei a ler.
O livro relata o período entre o abandono da ilha pelos portugueses até à independência e , como ele avisara, também não é de fácil leitura.
Como já estou cansada de só os judeus aparecerem como vítimas, este livro é algo de novo pois sai desse universo exclusivo e fechado, dando-nos uma outra perspectiva da realidade nos Campos nazis.
Mas é duro, relata claramente os métodos de tortura e os perigos corridos por quem tinha actividades clandestinas.
Bons sonhos.
Nas prisões (ou nos países tarantas sob apoio estrangeiro) criam sempre essas redes.
ResponderEliminarParece que sim...
ResponderEliminarFica bem