HALINA BIRENBAUM SOB(RE) O HORROR NAZI

" L´ESPOIR EST LE DERNIER À MOURIR - Une adolescente sous la terreur des nazis" é o livro que Halina Birenbaum  escreveu para deixar testemunho da sua dolorosa experiência de viver entre os dez e os quinze anos sob o terror  de Adolfo Hitler. Foi um dos livros que comprei no complexo de extermínio humano de Auschwitz-Birkenau em 25/7/2012.

 Nascida em Varsóvia, os anos entre 1939 e 1945 viveu-os numa Polónia ocupada pelo regime nazi, que tinha como objectivo assassinar oitenta por cento da população do país para repovoação por alemães, sendo os vinte por cento restantes destinados a trabalho escravo. Em proporção foram assassinados mais polacos que judeus no campo de concentração de Auschwitz.

A razão era aquilo que Hitler designava como "espaço vital" da Alemanha, para expansão da raça superior. Aliás, uma das motivações do médico Joseph Mengele nas suas pesquisas exaustivas sobre crianças gémeas era a de conseguir que as mulheres arianas procriassem gémeos para mais rápido crescimento alemão.

O seu drama iniciou-se aos dez anos  no gueto de Varsóvia e prolongou-se  até aos quinze , passando pelos campos de concentração de Majdanek, Auschwitz-Birkenau, Ravensbruck e Neustadt-Glewe.

Numa idade já de si complicada, foi sujeita a vivências terríveis , marcantes para toda a vida.

Denuncia a cumplicidade e cobardia da Autoridade Judaica do gueto de Varsóvia face aos invasores alemães  e recorda particularmente a "selecção da rua Mila. Tristemente célebre(...), foi a primeira do género e  viu partir 100 000 judeus de Varsóvia para Treblinka."

Viu morrer , de forma bárbara, não só familiares como outras pessoas. Ficou também a saber que as próprias  vítimas podem ser carrascos das demais vítimas a viverem nas mesmas péssimas  e precárias condições que elas e conseguirem ser ainda mais cruéis do que os opressores.

Quem já leu livros de sobreviventes dos campos de concentração , tem sempre um choque com o facto de quem os alemães escolhiam para o cargo de Kapo exercer o seu poder de uma maneira geralmente muito dura sobre os seus companheiros/companheiras de infortúnio.

Dá testemunho também da coragem de Mala, uma jovem belga, condenada à morte pela forca à frente de todos os prisioneiros após a sua captura numa fuga que durou algumas semanas: enquanto a comandante do campo discursava à assistência , cortou as veias dos pulsos e feriu no rosto o SS que se lançou sobre ela. Do que resultou ser selvaticamente agredida e levada de seguida para o forno crematório.

"Depois do pesadelo da espera , saímos vivas da câmara de gás(...)

Recontaram-nos e meteram-nos nos comboios, sentadas no chão(...)Dois SS ficaram também  na carruagem (...) A minha segunda viagem para o desconhecido começava. Nós pensámos que não poderia ser pior que em Majdanek(...)

Estava-se em pleno Verão. O comboio avançava lentamente, a viagem durava já há dois dias e duas noites.Tínhamos fome e sede.Fora-nos proibido mudar de posição sob pena de morte.(...) Jamais imaginara que permanecer sentada pudesse ser uma tal tortura. De repente, a minha vizinha mexe-se ligeiramente. O SS urra uma ameaça, que ela ignora implorando que a deixe levantar. Sem esperar a resposta , tenta erguer-se, apoiando-se nas costas da filha adolesente, sentada à sua frente. O SS aponta-lhe a espingarda . Semi-levantada , continua a pedir-lhe  piedade. Retivemos a respiração. O SS, homem já velho, iria verdadeiramente atirar?(...) Ele fez fogo. Estupefactas, olhámos a mulher cair lentamente(...), a vida a fugir-lhe com uma rapidez incrível. O soldado(...) ficou como se nada tivesse acontecido. Fez-se imediatamente um silêncio terrível, só  entrecortado pelos soluços convulsivos da rapariga que sustinha sobre as costas o cadáver ainda quente da  mãe.

Compreendemos, mais uma vez, que as nossas vidas não valiam nada para estes carrascos.(...) O SS ordenou o lançamento do corpo para fora da carruagem e disse à orfã :" Tu também não viverás muito mais tempo! Silêncio!" (...)

O destino quis que  eu assistisse a estas duas desaparições : a  da mãe e, mais tarde, a da filha."

(Excerto do livro, com tradução minha do francês)

E é por tudo quanto se sabe do horror nazi que quando ouço ser o partido  "Aurora Dourada"  já a terceira força política da Grécia e a Hungria estar a discriminar ciganos e judeus, que fico deveras preocupada.

Ainda mais, quando a União Europeia está a desfazer-se e a Alemanha ,pela terceira vez, a ter a responsabilidade maior da degradação na Europa.