quarta-feira, janeiro 30, 2013

"DJANGO LIBERTADO"

Vi já o mais recente filme de Quentin Tarantino, um libelo sem véus sobre  a crueldade da escravatura nos Estados Unidos da América. Na senda , aliás, de "Mandingo" **.

A acção decorre dois anos antes da guerra civil que opôs os Estados do Norte aos do Sul a propósito mesmo da abolição da escravatura, defendida pelos primeiros.

Um médico e caçador de prémios (Cristoph Waltz), liberta o escravo Django (Jamie Fox) para que este o ajude a encontrar três irmãos brancos procurados pelas autoridades, e que exerceram funções de capatazes na propriedade de onde o ex-escravo e sua mulher  Hildi tentaram fugir - sendo severamente castigados por esses brancos.

Antes de chegarem à plantação onde estão os irmãos, passam por uma cidade , cujo xerife não permitiu que Django fosse servido no bar, mas que acabou morto porque , afinal, era um vulgar ladrão de cavalos.

A chegada à dita  plantação causa um espanto enorme , dado  nunca se ter visto um negro a cavalo e livre. Enquanto  o dono( a quem os escravos chamavam "paizinho") ,  fala com o médico, Django pergunta  à  escrava encarregada de lhe mostrar o espaço, onde estão os três brancos e quando os descobre mata um a tiro e outro a chicote, dizendo à rapariga para ir chamar o médico.Que acaba por matar o terceiro quando este tentava fugir.

O proprietário , que chegara disposto a fazer "justiça", acaba confrontado com o pedido das autoridades para aqueles três homens serem capturados, vivos ou mortos.Pelo que os deixa sair sem os molestar.

Só que à noite, chefia um bando Ku-Klux-Klan para se vingar. E esta torna-se uma das cenas mais cómicas do filme: os oríficios dos capuzes não coincidem com os olhos, pelo que a visão é muito complicada ou mesmo nula. Não obstante a dificuldade, atacam : só que a carroça do médico estava vazia e armadilhada com explosivos e o "paizinho" é abatido a tiro pelo próprio Django.

Após passarem o Inverno  a caçar criminosos, na Primavera descobrem  onde se encontra a mulher do actual caçador de prémios e , sabendo que o esclavagista( Leonardo Di Caprio) utilizava mandingos em lutas de morte,chegaram lá como supostos compradores desses escravos.

Conseguem iludir  o senhor da plantação de algodão e sua irmã ( Tarantino constrói uma caricatura perfeita do que eram as damas sulistas) e estão quase a resgatar Hildi, quando o odioso feitor  negro ( Samuel Jackson), traidor da sua gente e mais racista que os brancos, o alerta para a armadilha.

Sob ameaça de assassinar Hildi, consegue que o médico lhe pague uma avultada quantia pela liberdade dela. A situação descontrola-se totalmente quando em vez de lhe apertar a mão, como o esclavagista exigia, o médico o mata, sendo ele próprio imediatamente abatido.

Já sem munições e para proteger a mulher, Django rende-se e é o feitor a  informá-lo mais tarde que a dama sulista  decidiu enviá-lo  para uma mina, onde ficará até morrer.

A caminho do seu destino, Django convence os brancos que transportam o carregamento de escravos a soltarem-no para obterem o prémio oferecido pelos malfeitores que , segundo ele, são os empregados brancos da plantação. Logo que o libertam, mata-os, pega no saco de dinamite e volta para se vingar.

Os primeiros a morrer são os homens que  soltaram cães treinados para essa função, sobre um escravo e o desfizeram à sua frente.

Quando chega à mansão, a família, os escravos e restante pessoal estão regressando do cemitério : as únicas pessoas que Django poupa são as duas escravas de casa, todas as outras são baleadas em pontos escolhidos .

Depois da explosão da casa com a dinamite, o casal parte livre, finalmente!


Os filmes de Quarantino são violentos, mas nunca gratuitamente: este não foge à regra.

Quanto ao elenco , todo ele tem um bom desempenho. Mas destaco esse actor extraordinário chamado Cristoph Waltz, merecidamente galardoado com o Óscar de Melhor Actor Secundário em "Sacanas sem Lei", deste mesmo realizador, e novamente nomeado por este desempenho espantoso.


** "Mandingo" é um filme de 1975, baseado no romance homónimo de Kyle Onstott e mostra cruamente como os esclavagistas tratavam os escravos.

Neste caso específico, o tema é a utilização para combates sem regras e até à morte  de mandingos(grupo étnico da África Ocidental, descendente do império Mali e de que foi levado um terço da população para escravatura para os E.U.A. nos séculos XVI, XVII, XVIII).

Os mandingos eram especialmente apreciados para este divertimento dos proprietários pelas suas excelentes características físicas. Claro que se ganhavam e perdiam fortunas por combate.

Por vezes,  havia cruzamentos para melhoria de raça, chegando ao incesto.



32 comentários:

  1. Este quero ver se vejo.
    beijinhos

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  2. Aconselho vivamente o filme, pois aquela coisa delicodoce que é "E Tudo o Vento Levou..."´foi escrita por alguém saudoso da escravatura e que tudo escondeu da barbaridade que constituiu, justificando inclusivamente a criação dessa tenebrosa e cobarde Ku-Klu-Klan.

    Bons sonhos

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  3. Ainda não vi este. Sinto curiosidade embora deteste filmes demasiado violentos.
    Abraço

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  4. Obrigado pela descrição, é um filme a evitar, já não sou consumidor das chuchadas de Tarantino há muito tempo, ainda prefiro o Michael Bay.

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  5. Não é um realizador que me agrade por aí além, mas que sabe escolher os elencos , sabe.

    E que aqui faz uma importante denúncia do que os brancos fieram enquanto esclavagistas, faz...tanto que causou muito incómodo à má consciência estado-unidense

    Só espero que ainda faça o mesmo relativamente aos índios, presos em reservas até hoje.

    Abeaço

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  6. Eu penso que é de ver, principalmente pelo desempenho do elenco(acho que Waltz merece de novo o Óscar)e, mais ainda, pela denúncia de com era a realidade da escravatura. Que nada tem a ver com a visão totalmente falsa de "E Tudo o VEnto Levou".

    Oxalá faça um filme sobre os índios nativos norte-americanos , ainda hoje em reservas, e que cause tanto mal estar com este!

    Um abraço, CATARINA

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  7. Querida Sao.

    La esclavitud es algo abominable y puede ser como en esta cinta o incluso, en la vida real, con la opresion.

    Gracias por compartirla.

    Un beso.

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  8. Sou suspeito...gosto de Tarantino. A violência nos seus filmes não me horroriza.
    "Sacanas sem Lei" e "Pulp Fiction" são magníficos.
    Tarantino possui uma rara cultura do cinema possuindo inúmeras referências cinematográficas que coloca nos seus filmes em histórias bem contadas e de excelente montagem. Por exemplo no "Sacanas sem Lei" a abertura faz lembrar o "Bom, o Mau e o Vilão" de Leone.
    Django está na minha agenda.

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  9. Querido RICARDO, a escravatura ( em todas as sua formas 9 é uma das manchas mais terríveis do caminho da Humanidade: como é possível um ser humano rebaixar outro ser humano desta maneira tão cruel e bárbara?

    E pensar que até a Igreja cristã abençoava e praticava um horror deste calibre!

    Amigo mio, abraço forte.

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  10. Conheço pouco de Tarantino...

    A violência choca-me , só que este realizador dá-lhe sempre um sentido .

    Para dizer a verdade, o primeiro filme dele que me atraiu realmente a atenção foi "Sacanas sem lei".

    Gostei mais de "Django Libertado" pela maneira dessassombrada como expõe a escravatura e os seus excessos .

    Oxalá pegue no tema dos índios nativos , ainda hoje em reservas, e que provoque o mesmo desconforto que causou com este.

    Fico esperando a sua opinião, CARLOS.



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  11. São
    Eu assisti e gostei muito.E voce explicou muito bem e detalhado.
    Quero lhe agradecer pois se nao fosse voce nao teria descoberto que o Embaixador Francisco tinha escrito sobre mim.
    Ha, será que el vao voltar pra Portugal. Um dia quero ir de novo em Portugal. Fomos em dez cidades nos arredores de Lisboa pra mamae nao cansar.Agora quero ir pro norte. Mas naos sei quando. Um dia!
    com carinho Monica

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  12. Obrigada pelo teu comentário caloroso a este meu último desabafo. Realmente vivo tempos difíceis (não vivemos todos?)
    O desalento, por vezes toma conta de mim e entristeço....
    São palavras de alento como as tuas que me vão dando força para euguer a cabeça e dizer "BASTA"!!!!
    Obrigada por isso. Bj
    ISABEL

    Não conheço o filme, mas assim que puder farei por ver. Beijos
    BShell

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  13. Tem muitos tiros para o meu gosto!

    Abraço

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  14. Desculpa, São querida, mas não irei comentar este tema. Demasiado perto, para que me sinta à vontade.

    Abraço apertado, na saudade que nos une.

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  15. Que posso fazer senão respeitar a tua vontade?

    Te deixo a amizade de sempre.

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  16. Obrigado pela descrição; vou tentar ir ao cinema!
    Abraço

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  17. ROSINHA, também não aprecio violência...mas esta faz sentido no enredo do filme.

    E as cenas mais violentas nem têm tiros...porque são as que nos mostram a perversidade humana.

    Gostei das fotos lá no teu blogue.

    Um abraço grande.

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  18. Vá, porque acho que se não vai arrepender.

    Um abarço, LINO

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  19. ISABEL, grata te fico...mas não há nada para me agradeceres, linda.

    Temos mesmo de lutar e não permitir que nos destruam.Por isso é importante a denúncia. E é denúncia da aberração que foi a escravatura que Tarantino faz neste filme!

    Oxalá denuncie também o comportamento criminoso sofrido pelos índios, ainda hoje em reservas.

    Bons sonhos.

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  20. MÓNICA, meu bem, nada tem para me agradecer: eu a avisei porque concordo com a opinião do embaixador acerca de si e também a acho um amor de pessoa.

    Fico contente em saber que também gostou do filme e lhe agradeço achar que consegui descrever bem o enredo, rrss

    Bem haja, querida.

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  21. Não faz o meu género de filmes, mas não é a primeira crítica favorável que leio.
    Cumps

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  22. Mesmo não sendo apreciador, penso que não se arrependeria.

    Bom serão.

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  23. Olá, São!

    Não vi, mas sobre ele já alguma coisa ouvir falar. Há alguns que obviamente, negam que o mesmo algo tenha a ver com a realidade da escravatura nos EUA - tão pouco elogiosa é a sugestão que dele sai...

    E já agora, como curiosidade, a etnia Mandinka,é uma das várias existentes na Guiné Bissau - por lá chamada de "Mandinga".

    Um abraço amigo.
    Vitor

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  24. Este não está na minha lista de prioridades, São. Disseram-me que é muitíssimo violento e a minha disposição e circunstâncias do momento, aconselham-me a afastar-me desse tipo de filmes.
    Uma boa noite, amiga

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  25. Deve ser bom, mas os filmes de Tarantino são sempre violentos de mais! Vamos ver se calha ir.

    Obrigada pelo comentário. (E mandar vir o Tarantino para acabar com os "nossos" governantes?!....)

    Beijinhos

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  26. Caro VÍTOR quem nega aquilo que este filme denuncia acerca da escravatura está ao mesmo nível de quem nega a existência dos campos de extermínio humano nazis, pura e simplesmente!

    Obrigada por completares a informação sobre a etnia, coisa que não fiz para não alongar ainda mais o post.

    Abraço grande, meu amigo.

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  27. Vi o filme hoje e... também gostei! Já ia preparada para ver violência em barda, como é apanágio de Tarentino (dizem, porque este é o primeiro filme que vejo dele), mas como dizes, aqui situa-se no contexto da escravatura e dos seus horrores da América de meados do século XIX!

    Beijocas e bons sonhos, São!

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  28. Parece-me incrível que haja tanto sururu, mas percebo a razão: a escravatura, o nazismo e a Inquisição são factos vergonhosos e desprezíveis e por esse motivo muitas pessoas se recusam a abordá-las sequer e muitas chegam a negá-las ou reescrevê-las.

    Um abraço, Teté.

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  29. GRAÇA, Tarantino neste filme só mostra a violêmcia tal como é: a escravatura foi uma violência, os caçadores de prémios existiram e os EUA ainda hoje vendem armas livremente sem muita gente a
    importar-se com massacres recorrentes.Além de manterem os indios em reservas,

    Para mim, "Ondas de Paixão" , de Lars von Trier, é muitissimo mais violento e não se dispara um único tiro.

    Bom dia, linda.

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  30. Caro CARLOS, se não está bem, pois o melhor é não assistir.

    A violência vem de Tarantino fazer um Western com a escravatura como fundo.

    E, garanto-lhe, as cenas mais violentas e chocantes não são as de tiroteio, mas sim as que mostram os aspectos mais hediondos do esclavagismo.

    Além disso, há um excelente filme realizado por Lars von Trier ("Ondas de Paixão", protagonizado por Emily Watson e Stellan Skarsgard), que não consigo rever, dada a sua extrema violência ...e não se dispara um único tiro.

    Para mim, a violência psicológica é pior ainda do que a física.

    Um abraço.

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  31. Amiga querida; não sei se vou ter a oportunidade de assistir, mas deixou uma curiosidade...
    Bom domingo, querida! Beijos

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  32. SE puder assistir, não perca.

    A violência presente faz sentido e os maus são todos castigados como merecem, rrss Só lamentamos a morte do médico...

    Um excelente domingo, Lucinha

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"BENVEGUT AQUÈL QUE NOS VEN MANS DEBÈRTAS"
(Saudação Cátara)

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