O autor, detentor do Prémio Goncourt desde 2010, tem neste livro uma proposta bizarra, mas , porém, estranhamente possível num futuro menos ou mais longínquo.
Foi essa visão do que poderá eventualmente acontecer em França a causa da enorme agitação sentida aquando da sua publicação.
E qual é a hipótese de Houellebecq? A França ter como Presidente um muçulmano, com todas as consequências daí advindas sobre a sociedade.
A narrativa é feita na primeira pessoa do singular por François, professor universitário com relacionamentos sentimentais(seria melhor dizer, sexuais) sem profundidade nem calor humano e longe de todos os compromissos.
Para mim, a abordagem de François à vida é ácida e desencantada, sem perspectivas nem ambições.
Quando se verifica a tremenda alteração política em França, acaba por se adaptar.
Aconselho a leitura, pela plausibilidade da hipótese de assim se desenrolar a actividade política francesa, mas não considero o romance um fascínio.
- "Podemos pensar que as instituições da Europa, que actualmente são tudo menos democráticas, vão evoluir no sentido de fazerem mais consultas populares; a solução mais lógica seria eleição por sufrágio universal de um presidente europeu. Nesse contexto, a integração na Europa de países já muito populosos e com demografias dinâmicas , como a Turquia e o Egipto, poderia ter um papel decisivo."
- " O efeito mais imediato da sua eleição era a diminuição da delinquência, e em grandes proporções. Nos bairros mais difíceis, tinha baixado claramente para dez por cento do habitual.Outro êxito imediato era o desemprego, cujos números estavam em queda livre. Devia-se sem dúvida à saída em massa das mulheres do mercado de trabalho - saída essa também relacionada com o aumento considerável do valor dos subsídios às famílias...e o facto de obrigarem à cessação imediata de qualquer actividade profissional... Aumento integralmente compensado pela drástica diminuição dos gastos com a Educação Nacional."