
Vi ontem, no canal principal da Radiotelevisão Portuguesa, "BOPE - O Lado Escuro do Rio", documentário sobre o combate à criminalidade desenvolvida pelas autoridades ao banditismo na cidade do Rio de Janeiro.
O Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) é um corpo de élite da Polícia Militar brasileira criada especificamente para tentar erradicar o tráfego de droga e outras actividades clandestinas nas favelas.
O seu treino é realmente de uma dureza extraordinária. Para mim , muito superior ao dos atletas de alta competição. Além disso, só homens de forte estrutura psicológica e grande capacidade mental , são capazes de desempenhar tarefas desmedidamente perigosas como são as rusgas a favelas labirínticas e totalmente controladas por criminosos. Tanto é assim que de seiscentos inscritos, restaram quinze!
A sua actuação já foi tema do livro "Tropa de Élite", com adaptação ao cinema. Tal como acontecera com "A Cidade de Deus", a sua exibição causou um grande alvoroço.
Neste trabalho pudemos assistir à incursão dos agentes nas favelas Canta Galo e Santa Teresa, onde apareciam gravadas nas paredes as letras C. V., iniciais do mais antigo grupo a traficar na cidade, isto é, o Comando Vermelho.
O meu primeiro contacto mais cerca do assunto , tive-o quando estive em Fortaleza no início de Abril de 2004: além de poder ver a realidade existente na própria cidade, vi através da televisão o confronto ocorrido na Rocinha ( Rio de Janeiro) entre as forças policiais e os criminosos.
Ouvi também as posições de várias pessoas conhecidas no país sobre o assunto e as diversas propostas apresentadas para a solução deste tremendo problema e que iam desde as mais securitárias às mais preocupadas com os aspectos sociais da população favelada.
Penso que o Brasil vive um drama imenso com esta realidade tão dura e inexplicável, dada a riqueza do país. E agrava-se pela espiral de violência provocada por uma situação aparentemente sem saída.
Toda a gente sabe que nas favelas vive gente séria, encurralada entre a violência dos criminosos e a da polícia ( o BOPE entra nas favelas para matar). Aliás, uma imagem que nunca esquecerei foi a de ver pessoas correndo , com crianças ao colo, pelo morro abaixo, enquanto a noite era aclarada pelo fogo cruzado das autoridades e dos criminosos.
Para mim , é extremamente angustiante a noção de que as crianças das favelas não têm nenhuma perspectiva de futuro dadas as condições miseráveis a que estão sujeitas.
E, no entanto, não posso deixar de concordar com o direito á defesa que toda a gente tem e de sentir profundo respeito por quem arrisca a vida a cada segundo para conter a criminalidade.
Na linha de pensamento de algumas das pessoas entrevistadas aquando dos acontecimentos da Rocinha, parece-me que a solução estará na melhor distribuição de riqueza , na educação da população mais jovem e no castigo exemplar dos crimes de colarinho branco.
Que pensam sobre isto?