"ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS"

Acabo de ver um dos melhores filmes a que já assisti : "Este País Não É para Velhos", realizado pelos irmãos Cohen.

O filme na sua crueza despida de artíficios é um pedaço da vida real plasmado no écran.

Filmado na aridez do Texas, onde o inglês mascavado dos norte-americanos se torna ainda mais rude, a violência gratuita do psicopata assassino é ainda mais áspera e sem sentido.

Tudo começa com a descoberta de uma série de corpos assassinados por um caçador, que se apropria de dois milhões de dólares.

A partir daí começa uma perseguição implacável onde a morte campeia por mero capricho do amoral personagem interpretado magistralmente por Javier Bardem.

E é este assassinar por assassinar que choca o xerife à beira da reforma, "ultrapassado" na sua concepção do mundo e de crime.

O filme tem um final completamente aberto, recusando a moralidade tão presente em Holywood. O que ainda o torna mais interessante e verdadeiro.

Não há uma única concessão à facilidade e ao prevísivel.Inclusivamente, nem tem sequer banda sonora. Pelo que só os sons reais das botas na areia, das conversas, dos tiros, do choque de carros, se ouvem.

As interpretações são muito boas, qualquer uma delas. Mas o Óscar outorgado a Javier Bardem foi merecidissimo: a sua expressão mantém-se neutra todo o tempo e em todas as circunstâncias. Sendo que até nas raras ocasiões em que abre um sorriso , os seus olhos continuam vazios.

Já apreciara em "Mar Adentro" e "Os Fantasmas de Goya" as suas magníficas composições das personagens , mas mesmo assim surpreendeu-me : é bem mais difícil desempenhar este tipo de papel.

Do filme fica-nos o gosto cruento da sociedade de hoje, onde a vida humana deixou de ter valor, e uma visão pouco esperançosa de futuro.

Como uma das personagens questiona: se a educação deixa de funcionar, onde é que isto vai parar?

Profunda e inquietante pergunta que nos toca a todos e deixo à vossa reflexão.