Quase anónima sorris
E o Sol doura o teu cabelo.
Porque é que, p´ra ser feliz,
É preciso não sabê-lo?
Este poema de Fernando Pessoa é a minha muito singela homenagem ao seu enorme talento .
Para lembrar também que nasceu a 13 de Junho de 1888 em Lisboa, cidade em que faleceu a 30 de Setembro de 1935.
sábado, junho 14, 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Pois é dona moça! No mesmo dia de santo Antonio, para mim Fernando Pessoa foi o maior poeta português de todos os tempos, faça fé!
ResponderEliminarE O Santo Antonio? Cadê? kkkk
bjs
O Sibarita
(eu que nada percebo disto de computadores, escrevo e publico e pouco mais. Como não fui eu que criei os blogs, onde escrevo, mas uma maravilhosa senhora que não conheço e o seu filho, tive que me sujeitar ao que me criaram.
ResponderEliminarPostava como "xistosa" e apesar de escrever sempre que era homem, casado, feliz coma mulher com que casei quase há 35 anos, tive um pequeno desencontro com uma visita.
Chamou-me predador.
Como não tenho nada a esconder, quer na vida da Net, quer na vida particular, tive que ne impor ...
Para conseguir alterar o nome, de "xistosa", para "xistosa - josé torres", passei quase uma noite.
Pensei que os meus amigo(as), se fossem habituando ...
Daí, para não colocar ninguém em cheque, mudei de mansinho ...)
Continuo o "xistosa"
Recebo-o como homenagem á minha filha que hoje fez 30 anos.
Não o esqueço, apesar de não o considerar o maior poeta.
Foi grande em prosa ...
Mas como em tudo ... há sempre os admiradores.
Ola Sao,
ResponderEliminarTambem eu adoro Fernando Pessoa e nao so poruq foi um poeta magnifico, que sabia brincar com as palvras, da forma que so os genios o conseguem, mas tambem porque era um pensador. Um filosofo. Aqui te deixo este seu poema, durante as minhas ferias:
Segue o teu destino
Rega tuas plantas
Ama as tuas rosas
O resto é sombra
De arvores alheias
A realidade
Sei que é mais ou menos
Do que nós queremos
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
A resposta está além dos deuses.
mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Colaboremos na homenagem.
ResponderEliminarfeliz fin de semana
ResponderEliminarsaluditos
Gostei da homenagem. Beijo grande São.
ResponderEliminarDeixo-Vos, aquele que é também e de alguma forma, o meu auto retrato.
ResponderEliminarTABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, 15-1-1928
São!
ResponderEliminarJusta homenagem ao maior poeta da língua portuguesa!
Bom fim de semana, amiga! Na foto, uma mulher corajosa em frente ao templo de outra...
Beijos!
*
ResponderEliminarO sonho é ver
as formas invisíveis
Da distância imprecisa,
e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança
e da vontade,
Buscar na
linha fria do horizonte
A árvore, a praia,
a flor, a ave, a fonte ---
Os beijos
merecidos da Verdade.
,
In-Fernando Pessoa
.
Conchinhas
,
*
Também aprecio muito Pessoa, mas não tanto que o considere o maior...
ResponderEliminarSanto António, depois das maroteiras que fez? rsrsrs
Um abraço.
XISTOSA
ResponderEliminarMeu caro José, neste mundo internético parece que algumas pessoas só o frequentam para aborrecer as demais, também o sei por experência própria!!
Parabéns a us filha : que a vida lhe seja feliz, em companhia de quem a ama( pai e mãe, particularmente, claro).
Também acho que há poetas melhores que Pessoa.
Feliz fim de semana.
TAGARELAS
ResponderEliminarO meu apreço por Pessoa baseia-se na sua capacidade de se interessar pela vida no seu todo.
Agradeço teres-me dado a conhecer um poema de que só conhecia a parte final.
Que tenhas umas óptimas e repousantes férias, junto aos teus.
OBSERVADOR
ResponderEliminarAgradeço a colaboração e desejo bom fim de semana.
JUANI LOPES
ResponderEliminarIgualmente y muchas gracias.
Graça Pires
ResponderEliminarSó é pena que o Governo também não o homenageie convenientemente...
Fim de semana bom.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarPAULO
ResponderEliminarMuito obrigada pela partilha de um poema tão significativo para si.
Bem haja!
PAULO VILMAR
ResponderEliminarCumprir o que se deve, não é coragem...mas agradeço, amigo.
Aprecio Pessoa pela poesia , mas não só.
Bem hajas!
POETA EU SOU
ResponderEliminarBoa escolha...
Búzios de bom fim de semana.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarQuero unir-me a esta homenagem querida amiga São.
ResponderEliminarFaz tempo que não visitava teu lugar, mas desejo que essa viagem tenha sido dos mais prazenteiro
Beijos
Sim, já estava preocupada com a tua ausência!!
ResponderEliminarViva Pessoa e a poesia.
Amic, feliz fim de semana.
Pessoa agrada-me.
ResponderEliminarO que não me agradou nada foi a atitude de algumas das pessoas no post anterior.
LUIZ
As acções ficam para quem as pratica, não é?
ResponderEliminarFica bem.
Um dos poetas meus preferidos, 120 anos são muitos
ResponderEliminarbeijinhos
São
ResponderEliminarFoi realmente um grande poeta!
Justa homenagem que aquí lhe fazes!
Abraço amiga
Um grande poeta.
ResponderEliminarPessoa, um dos maiores do mundo.
ResponderEliminarIntemporal, imortal, incomparável.
Beijinhos
Merecida homenagem, àquele que para mim é o maior poeta português. Sem entrar em polémicas, com o Camões que eu acho um poeta difícil, não muito fácil de entender.
ResponderEliminarBom Domingo.
Um abraço
MULTIOLHARES
ResponderEliminarMas Pessoa cntinua actual, não é?
Bom domingo.
POESIA NO POPULAR
ResponderEliminarFoi uma personalidade muito rica, acho.
Bom domingo.
RUI CAETANO
ResponderEliminar...e não só.
SOPHIAMAR
ResponderEliminarPessoa é Pessoa!
Feliz domingo.
ELVIRA
ResponderEliminarNão há que entrar em polémica em questão de gosto.
Pessoalmente , acho a lírica de Camões maravilhosa.
Quanto a ser difícil, não discordo...mas isso prende-se , por exemplo, com o facto de ele não ser do nosso tempo.
Domingo feliz.
¡Cómo me gusta Pessoa, cómo me gusta!
ResponderEliminarFoi a ler Pessoa que aprendeste português?...
ResponderEliminar