A MEU PAI

Há precisamente dez anos, a esta hora, trocámos as nossas derradeiras palavras.

Cinco horas depois, quando me acerquei de si, já a morte o tinha levado. Sem que , ao menos, nos tivesse dado hipótese de defesa, mínima que fosse.

A dor , brutal e aguda, que senti ao ouvir a confirmação do médico de serviço no Hospital do Barreiro foi atenuada pelo tempo. Ninguém consegue suportar aquela intensidade pelo resto da vida.

Mas a saudade, essa , é um punhal que se vai enterrando cada vez mais profundamente no coração sem lenitivos , sem refrigério, sem alívio.

Resta-me o consolo -pobre e escasso consolo - de saber que a morte o surpreendeu durante o sono e de assim "acordar morto" como sempre disse que gostaria de morrer.

Ficou-me o orgulho do seu exemplo de pessoa honesta, íntegra e batalhadora.

Herdei o seu gosto pela poesia , a sua paixão pelas viagens, o seu imenso interesse por alargar conhecimentos .

Onde quer que esteja - e eu tenho a plena certeza de que está bem - sabe que não há um só dia que me não lembre de si.

Por isso, aqui lhe deixo testemunho do meu amor, da minha gratidão e da imensa falta que me faz.

Luz e Paz!