Venho hoje falar convosco sobre um livro que acabei de ler recentemente.
Como já disse anteriormente, não tenho conhecimentos técnicos onde possa basear a minha análise, pelo que será sempre a minha opinião aquilo que aqui deixo à consideração de quem me dá o gosto da sua presença.
Intitula-se " Cecília Supico Pinto , o Rosto do Movimento Nacional Feminino", da autoria de Sílvia Espírito Santo (investigadora do Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais, licenciada em História pela Universidade de Coimbra e com um mestrado em Estudos sobre as Mulheres pela Universidade Aberta de Lisboa).
Como se deduz pelo título trata-se da biografia da fundadora e responsável máxima do Movimento Nacional Feminino(MNF), "organização independente do Estado que congregava as mulheres portuguesas no auxílio moral e material aos soldados que lutavam nas antigas colónias portuguesas", só extinta após 25 de Abril de 1974.
Em primeiro lugar devo congratular-me com o facto da autora ter escolhido escrever uma biografia, género pouco cultivado em Portugal. Parece-me , porém, que se trata mais de uma (quase) autobiografia, pois as partes negativas não são focadas.
Quem não passou pela ditadura e não conheceu na realidade a ideologia do MNF e a sua maneira de actuar ficará com a impressão de que o seu trabalho foi muito meritório. Ora, nós sabemos quão distante isso está do que realmente aconteceu no terreno.
Basta uma conversa casual com qualquer dos militares que contactaram com a organização, para nos apercebermos do desfasamento entre a sua actuação e as necessidades de quem combatia.
Aponto , só como exemplo, o disco de Natal de 1971 (que até nesta obra é referido), as revistas muito desactualizadas colocadas à disposição nas instalações da organização, a meia dúzia de cigarros meio estragados dada aos soldados quando embarcavam.
Não podemos escamotear de modo algum o facto de ainda hoje, Cilinha (como era conhecida) continuar a considerar Oliveira Salazar "um verdadeiro príncipe" , digno de respeito e admiração. Além de que, para ela, a descolonização foi um crime de lesa-pátria.
Cilinha afirma ter sempre dito a verdade e quanto pensava a Salazar, sem que isso prejudicasse a óptima relação entre ambos. Esquece-se , porém, que a sua verdade coincidia ponto por ponto com a verdade do ditador.
Sabe-se que ao referir-se às mulheres que se despediam em pranto dos filhos, maridos, namorados, irmãos, na Rocha de Conde de Óbidos, as insultou , designando-as por "infames carpideiras".
Deve-se porém reconhecer que Cecília Supico Pinto é uma mulher determinada, com coragem e que escapou por completo ao padrão imposto pela Igreja Católica e pelo Estado Novo durante a ditadura ao sexo feminino.
Também se deve reconhecer que não teve mordomias além das que eram devidas a seu marido Luís Supico Pinto, homem de confiança de Salazar, enquanto ocupou o cargo de Ministro da Economia.
Apesar de considerar que a autora deveria ter alargado muito mais o âmbito das pessoas entrevistadas e tornar mais real o desempenho da biografada, recomendo a leitura. Até porque trata a nossa história recente que tão descurada tem sido.
A figura que ilustra o texto é um Aerograma, distribuído gratuitamente para que se trocasse correspondência entre os soldados e as respectivas madrinhas de guerra.
Espero que estas minhas impressões vos tenham sido de alguma utilidade.
Amiga o meu tempo é tão pouco, que há montes de tempo eu não leio um livro.
ResponderEliminarMas também não me entusiasmou o livro citado para o caso de ter tempo. Eu estive lá. E sei o que era o tão falado apoio do MNF.
Um abraço e uma boa semana.
Viva, Elvirinha.
ResponderEliminarAs suas palavras só vêm confirmar a opinião que o livro me causou.
Feliz semana para si e para os seus.
Aprendo sempre imensa coisa contigo, São. Não irei ler o livro, mas fiquei informada sobre ele. Um beijo e obrigada.
ResponderEliminarViva, linda.
ResponderEliminarCompreendo perfeitamente que não leias.
Feliz semana.
Acordei bem e fiz uma resenha sobre um filme que está em cartaz em São Paulo, mas cujo DVD importei porque não posso sair. O título em português é A Outra. É sobre o triângulo "amoroso" entre Henrique VIII, Ana Bolena e Maria Bolena,a irmã de Ana, cuja existência eu ignorava até ver o filme.
ResponderEliminarApareça por aqui:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
Um beijo,
Renata
Fui até seu espaço, mas não consegui fazer entrar o comentário.
ResponderEliminarAntes de conhecer Ana, Henrique já engravidara sua irmã.
Desejo a sua rápida recuperação.
Olá, minha querida...
ResponderEliminarVenho cá agradecer pela visita em meu jardim florido...
Grande beijo com carinho e dizer que voltarei e também estarei a sua espera em meu cantinho mais vezes...
Adorei ler o texto...
Posso te linkar?
Beijos doces e feliz semana
Iana!!!
Claro! Eu é que fico muito grata!Vou te colocar nos favoritos, sim?
ResponderEliminarUma semana muito boa!
Amiguinha, o teu post é muito interessante, porque foca um assunto que foi sofrido na pele por todos os militares portugueses. Essa "senhora" e esse tal de "MNF" eram uma autentica fantochada, para inglês ver. Eu sei do que falo, porque na altura estava na Guiné, falo em 1971/73, e essas "madames" passeavam-se pela cidade, sempre muito bem vestidinhas, mas no hospital e nos postos de saúde, nem sombra delas. Enfim...
ResponderEliminarUma linda semana
Bjinho amigo
Mario Rodrigues
Por isso eu considero que a aitira falhou o objectivo como biógrafa.
ResponderEliminarBoa semana.
A Cilinha era ávida de notoriedade e aparecia onde pudesse ir sem correr riscos graves. Não dava todo o apoio que seria desejável, mas esse objectivo não era realizável. Se alguém esperava muito ficava desiludido. E do dinheiro de que dispunha, o MNF podia fazer muito mais. Não conheciam as realidades difíceis dos combatentes, e as conversas eram muito fantasiosas, pelo que as conclusões que traziam das visitas ao «mato» não eram as mais verdadeiras.
ResponderEliminarEnfim, muito haveria que contar do gozo que ela e as amigas traziam das visitas as tropas.
CumprimA. João Soares entos
Concordo de todo consigo.
ResponderEliminarSeria interessante saber mais.
Tudo de bom.
*
ResponderEliminaramiga
,
olha que não, olha que não,
podes falar na igreja cerejeira,
a igreja católica, em portugal,
renasce com d.antónio ribeiro,
homem identificado com a
comunicação social, na RTP, deves
lembrar-te, nesse começo de A.C.,
consegue "passar" a encíclica
VATICANO II, a vários católicos progressistas de várias vertentes,
na altura um chegou ás minhas
mãos, a qual guardo com carinho,
a dignidade humana e a teologia
da libertação, vidé ainda hoje a
america do sul, eram tabu no país,
Falei algumas vezes com esta senhora, quando visitava o hospital
militar e o seu anexo, campo de
concentração á rua artilharia 1 ...
nunca critiquei senhoras, desde a
dona maria governanta á odete santos . . . mas . . .
,
quanto a Supico Pinto,
presentemente os ministros vão para
presidentes das grandes empresas
que mandam neste país e mandam nas
marionetas do poder,
o supico pinto, foi para presidente
da câmara corporativa,
se soubesses onde ele começou …!!!
,
conchinhas de amizade, deixo-te
,
*
São: Ainda não li o livro. Se quer saber, ainda não tive vontade. Tenho lido sobre o mesmo na comunicação social, onde a Cilinha teve, na altura do lançamento, muito tempo de antena (jornais, televisões especialmente). E a ideia com que fiquei foi exactamente aquela que descreve neste post, depois de ter lido o livro. Tal e qual.
ResponderEliminarO facto da senhora ser determinada e corajosa não apaga a superioridade com que me parece que agiu lá nas suas acções. Mais do que maternal, pelo que fui vendo e lendo, pareceu-me que a senhora e o seu movimento eram um instrumento ao serviço do regime. Posso estar errada; não digo que não. Mas não concebo que alguém sinta qualquer tipo de satisfação por um regime que ostracizou, humilhou, torturou e foi para uma guerra sangrenta. Muitos dizem que a Salazar se deve o mérito de não termos entrado na IIª Guerra Mundial. Esquecendo-se que, mais tarde, houve uma outra guerra. E guerra é guerra. São todas más - não há melhor nem pior.
Bom, e eu iria por aí adiante. Mas acho que já percebeu a ideia.
Beijinhos
Curiosamento, no domingo passado a minha mãe mostrou-me um aerograma do meu pai :)
ResponderEliminarObrigado pela passagem no meu blog e pelas palavras que deixaste por lá.
Fica bem,
Miguel
Foi a instituição das pidescas cházadas e algo mais que não vou aqui colocar, mas que, certamente não ela, mas o "seu movimento", alardeavam granjear para orgias de odaliscas e miúdos.
ResponderEliminarPelo menos no Porto, perto da Estação de Campanhã e R. do Freixo, iam e vinham ministros e sicários, digo secretários ...
Tempos malditos ... que o militar era carne para canhão e o símbolo das suas basófias.
Desculpe a linguagem, mas nem para papel higiénico quer tal autobiografia.
A história não se pode escamotear, aconteceu ...
Que se narrem os factos como aconteceram e se historiem, não à custa de meia dúzia de patacoadas, para apanhar dinheiro aos incautos.
O lado negativo das biografias é que, na maioria das vezes, elas mostram apenas um lado da moeda.
ResponderEliminarBijinhos, e boa semana para tí, querida! =**
-Ao que sei, e não vivi esse tempo, a Cilinha era alguém que nasceu antes do tempo, adaptou-se á ideologia da época, nunca a discutiu, talvez não a tenha sequer aprofundado, e um dia viu o seu mundo ruir. Não protestou, não barafustou, caiu no esquecimento até ser recuperada nos dias de hoje, ao contrário de outras(os) que se converteram em grandes anti-fascistas no dia 26 de Abril. Faço-lhe essa justiça, mas estou convencido que se vivesse hoje não seria muito diferente do pseudo jet-set nacional, sem conteudo, sem interesse, sem nada.
ResponderEliminarsou uma devoradora de livros, confesso, mas, não me pareced que este faça parte da minha mesa de cabeceira...
ResponderEliminartempos cansativos, são...
beijinhos
Oi meu estimado amigo.
ResponderEliminarVim para desejar uma boa semana com muita paz e amor em seu coração.
Vou procurar ler esse livro.
Beijos e fique na paz.
Te aguardo no meu cantinho.
Nunca leria um livro desses.
ResponderEliminarEsse movimento foi inóquo e era só para "encher o olho" ao povo.
Na prática não ajudaram nada de substancial e era um organismo apadrinhado pelo regime.
Uma farsa.
Belo trabalho, fizeste-me recordar de uma coisa que já havia esquecido... e de má memória...
Beijinhos.
Assiti ao vivo às visitas dessas senhoras e vivi essa época intensamente. Dispenso-me de comentar a sua actuação, porque o que lá vai, lá vai.
ResponderEliminarAbraço do Zé
Gracias por darme a conocer este texto. En efecto, el cultivo de la biogrfía, que tanto esfuerzo requiere para su correcta redacción, tiene mala prensa inmerecida. Saludos veraniegos. Esta tarde, Quijote.
ResponderEliminarQuerida São
ResponderEliminarAs tuas indicações foram muito úteis mas eu também vivi o tempo da ditadura. Sei o que significa O MNF e, ainda que haja uma parte positiva na descrição que me fazes, não me sinto motivada a ler esse livro.
Senhoras da caridade que do alto do seu império encobriram com o seu manto a miséria, a morte e a falta de liberdades, não fazem o meu género venham elas vestidas com as roupagens que vierem.
Mas compreendo e aprecio as pessoas que procuram não discriminar e ser abrangentes nas suas apreciações.
Gosto de encontrar diferentes visões que sempre nos acrescentam e gosto de quem não tem um olhar monolítico sobre as coisas.
Por isso me sinto em sintonia contigo.
Um abraço muito apertado.
Querida São...
ResponderEliminaro pior é quando as verdades divergem... Aí se vê a verdadeira coragem...
Beijinho grande para ti...
POETA EU SOU
ResponderEliminarEu não professo nenhuma religião, crio numa Entidade Maior à minha maneira. Além disso, não morro de amores por nenhuma Igreja organizada e com hierarquias e coisas do género.
Sei que António Ribeiro foi progressista e não me esqueço da Capela do Rato nem de Francisco Fanhais, por exemplo.
Mas continuo a achar que, mesmo actualmente, o catolicismo ( versão Vaticano) está longe de cumprir os ensinamentos de Cristo.
Não queres contar como começou O marido da senhora? Seria interessante.
Um abraço bem grande.
LÚCIA
ResponderEliminarEstamos de acordo, completamente.
Beijinhos.
JOSÉ MIGUEL GOMES
ResponderEliminarAh, tua mãe ainda tem?! Eu já não!
Nada a agradecer.
Fica bem.
XISTOSA
ResponderEliminarMeu caro , para mim este Movimento era o rosto feminino da ditadura.
Lamentavelmente, já tive que ouvir um discurso parecido ao de Cecília ao vivo!
Um abraço grande.
KARINA
ResponderEliminarNeste caso, é bem mais grave essa característica pois acaba por branquear um comportamento indesejável.
Abraços, linda.
ANTÓNIO DE ALMEIDA
ResponderEliminarSEm dúvida, penso que seria assim.
Fique bem.
GAIVOTA
ResponderEliminarPercebo que não leias. Eu li porque mo ofereceram.
Beijinhos.
DEUSA ODOYIÁ
ResponderEliminarPois leia, mas sempre tendo em atenção que só se foca o positivo e se escamoteia a parte escura.
Beijinhos.
Uma farsa ...e de mau gosto.
ResponderEliminarFica bem.
ZÉ POVINHO
ResponderEliminarMeu caro amigo , permita que discorde um pouco : o que lá vai, lá vai, mas para a nossa geração.
Não será importante dar a conhecer às presentes gerações os aspectos negros do anteriro regime, tentando evitar que de algum modo se repitam?
Claro , não através de obras deste género, mas sim de verdadeiros estudos?
Um abraço grande.
Lá irei, meu querido Pedro.
ResponderEliminarBeso.
SILÊNCIO CULPADO
ResponderEliminarObrigada por seres assim.
Beijinhos, muitos.
ALICE MATOS
ResponderEliminarTal como dizes: a coragem vê-se na diverGência das verdades e não na sua sintonia.
Beijinhos, linda.
o MNF, era o jet7 da altura, pior estava ao serviço do facismo, agora a dita senhora vem publicar um livro, mas claro só fala nas partes ludicas.
ResponderEliminarainda guardo na memória de que quando os familiares recbiam a noticia da morte de um soldado, as autoridades não permitiam gritos de revolta e o dito movimento actuava e era cumplice,
a memória das pessoas é curta e só se lembram do que lhes convém.
Por isso esse livro será uma oportunidade perdida
Pior, não é ela que publica o livro, mas sim alguém que faz uma biografia sobre a senhora, mas sem ser imparcial como deveria ser. Pelo menos, na minha análise.
ResponderEliminarTudo de bom.