Portugal libertou-se da ditadura Salazar-Caetano em 25 de Abril de 1974, mas para os homens e mulheres presos pela sinistra polícia política nas suas masmorras, com especial destaque para Caxias e Peniche, o fim do seu sofrimento às mãos dos torturadores só chegou a 27 de Abril de 1974.
Estes dois dias de diferença foram vividos primeiro na ignorãncia ,pois não tinham contacto com o exterior; depois no pânico que se tivesse concretizado o golpe militar de extrema-direita comandado por Kaúlza de Arriaga , na senda do que Pinochet fizera a 11/9/ 1973 no Chile; e, por fim, na expectativa de quem saía ou não da prisão.
São os testemunhos de algumas destas pessoas que a jornalista Joana Pereira Bastos recolheu no livro posto à venda esta semana intitulado "Os Últimos Presos do Estado Novo", que dedicou a sua tia Fátima , prisioneira em Caxias na época e que nunca falou da sua terrível experiência.
Ainda hoje as marcas do sofrimento físico e psicológico são muito presentes nestas pessoas: sentimento de culpa por parte de quem não suportou as torturas e falou, insónias, pesadelos, ódio, impossibilidade de ouvir certos sons ( bater de uma moeda ou porta-chaves numa superfície, choro de crianças). Vivem uma situação , tal como os militares, de stress pós-traumático.
Conheço pessoalmente Maria da Conceição Moita e é impressionante ouvi-la falar sobre o tempo da sua prisão e fui amiga de Acácio Justo,já falecido, companheiro de cela de Álvaro Pato, Rafael Galego, Saldanha Sanches, Manuel Felizardo e Carlos Pereira.
Só relato dois exemplos das atrocidades em Caxias:
- A José Lamego "durante uma semana, fecharam-no no «segredo» , uma cela subterrânea, escavada a cerca de três metros de profundidade nas traseiras do reduto norte, sem janela e onde as luzes só eram acesas ao almoço e ao jantar."
- Na cela "Elas tinham criado normas para facilitar o convívio forçado num espaço tão exíguo. (...) Perante o que tinham passado na tortura, a saudade do que haviam deixado lá fora e o medo dos anos que ainda teriam pela frente, poder chorar, à vontade e sem condicionamento, era essencial para o equilíbrio de todas. O silêncio também."
Penso ser indispensável a leitura e divulgação deste livro, que li de rajada, para que as gerações pós-ditadura tenham conhecimento do horror que foi viver em Portugal durante os quarenta e oito anos de um regime que não hesitou ante nada para se manter. E que teve , no aperfeiçoamento da polícia política , o apoio alemão e da CIA.
Relembro ainda que torturas bárbaras e inomináveis foram praticadas em Peniche , Terceira , Tarrafal, que a autora não aborda aqui por se ter centrado em Caxias.
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ResponderEliminar.
. da História não restam margens para quaisquer dúvidas .
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. grato . pelo tributo .
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. um bom fim de semana . querida São .
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. um beijo meu .
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Assim também considero, embora haja sempre alguém que quer passar uma esponja por cima dos horrores cometidos...e isso não podemos permitir, meu querido Paulo.
ResponderEliminarBom fim de semana.
Há livros que são importantes ler, tanto como material de pesquisa como enquanto contributo histórico. Pessoalmente, passo. Não porque não saiba o que por lá se passou ou não me interesse, antes pelo contrário, mas porque são leituras que me deixam doente. Com o tal ódio à flor da pele, contra gente tão desprovida dos princípios mais básicos e de instintos tão sádicos e facínoras.
ResponderEliminarDe qualquer forma, considero importante que livros com essa temática se publiquem, até para as gerações vindouras perceberem realmente os perigos de uma ditadura...
Beijocas, São!
Já tinha ouvido falar do livro. Tenho de ir comprar!
ResponderEliminarAbraço
Olá, São!
ResponderEliminarE ainda aqui falta a menção do Tarrafal, em Cabo Verde, conhecido pela frigideira, nome que só por si dá ideia do horror que lá se vivia.A esta distância e para os mais novos difícil será difícil imaginar que este país já foi um estado policial, criminoso.E que, "curiosamente", contou com o silêncio e cumplicidade de países tidos como democráticos...e onde a PIDE pôs em prática as descobertas teóricas feitas por uma universidade americana sobre a tortura do sono, a solicitação da CIA...
E olhando para o que neste mundo Ocidental e "dito civilizado" vai acontecendo, parece que muito pouco mudou - ou mesmo nada...
Bom fim de semana; um abraço
Vitor
HORRÍVEL! nem imagino, nem me imagino numa situação dessas! Medo de regressarmos a esses tempos - com estes fascistas encartados que tomaram conta do país com o voto de um povo cego, estúpido e clerical! Muito medo, mesmo!
ResponderEliminarBeijinhos
Bom que não se esqueça...
ResponderEliminarSão, aplicaste muito bem o poema curtinho de Sophia (retira só a palavra «sábio»)...
Beijinho
Também hoje
ResponderEliminaré preciso falar por gestos
quanto aos presos
será sempre bom recordar
os seus nomes e filiações
em nome da VERDADE
Olá, São!
ResponderEliminarCorrecção ao que atrás disse:Claro que lá está mencionado o Tarrafal; mea culpa!
Abraço.
Vitor
Comprei ontem esse livro na FNAC.
ResponderEliminarAbraço do Zé
Depois me dirá a sua opinião, sim?
ResponderEliminarBoa semana
Este livro deveria ser matéria de leitura obrigatória assim como outros para que não seja escamoteada a face sinistra da ditadura.
ResponderEliminarEu que já estive no campo de concentração do Tarrafal, ainda em funcionamento em 25/4/1974, fico sem ponga de sangue quando ouço dizer que fazia falta um Salazar!!
Beijinhos
LINO, pois compre , que penso não se arrependerá.
ResponderEliminarBom resto de domingo
A PIDE recebeu fortmação da Alemanha nazi e dos democráticis EUA.
ResponderEliminarSalazar e Caetano tiveram apoio dos países ocidentais tal como Espanha o teve.
Actualmente , temos as mesmas ajudas a Israel e tutti quanti, pois desde que os ditadoes ou as democracias musculadas sejam do interesse das potências dominantes ou tenham enorme poder económico, como a China, os direitos humanos e ajustiça deixam de importar.
Bons sonhos VÍTOR.
O campo de concentração do Tarrafal de Santiago ainda funcionava em Abril 1974, mas só para os presos políticos das colónias.
ResponderEliminarOs do continente tinham deixado de ir desterrados para lá por causa da pressão internacional.
A "frigideira" era um cubículo situado fora do campo e que já não existe.
Um abraço, VÍTOR
Admiro muitissimo quem passa ou passou por terríveis situações de tortura física e/ou psicológica mesmo quem acabou por falar porque sei perfeitamente que eu não aguentaria.
ResponderEliminarCompartilho esse teu receio porque as ditaduras começam com um caldo de cultura muito semelhante ao que agora temos.
O povo português se não é masoquista e pouco inteligente , imita muito bem: votar Cavaco recorrentemente para todos os lugares a que se propôs e eleger para governar o país num conjuntara que já era complicada o PSD(e CDS , por arrasto)não lembra a ninguém!
Para cúmulo, ainda existe quem os defenda e declare que estão fazendo o que deve ser feito, sem atentarem sequer nos resultados desastrosos das políticas seguidas é estupidez é estado puro!
Boa semana, GRAÇA
Já disse para se retirar e expliquei que o fazia porque Cavaco é burro, rrss
ResponderEliminarIndispensável que as jovens gerações saibam o que se sofre(u) sob um regime que não respeita asu própria população e a tortura com requintes de sadismo.
Bom também que não esqueçamos a dualidade de critérios e a hipocrisia dos pseudo. moralizadores do planeta.
Beijinhos, ANA
Houve gente de todos oa quadrantes desde PCP, LUAR, católicos, operários, intelectuais, MRPP.
ResponderEliminarE nos anos derradeiros da ditadura foram os opositores políticos das colónias quem penou no Tarrafal, embora durante muito tempo os portugueses do continente tivessem cumprido penas , chegando muitos a morrer lá.
Fica bem, PUMA
*
ResponderEliminarsão
,
a morte saiu á rua num dia assim,
zeca,
eu vi, imberbe, na rua da cresche,
o nome, na altura !
,
bem hajas,
,
marés de amizade,
ficam,
*
Sem falar naqueles que foram presos e nunca mais voltaram.
ResponderEliminarUm livro a não perder. Até porque de vez em quando aparece um "iluminado" a querer remeter-nos para aquele tempo.
Um abraço e uma boa semana
todos no mundo devem ler livros assim!
ResponderEliminarbeijos meu bem
Sem dúvida, para que saibam o que se sofre em ditadura e não estraguem a Democracia!
ResponderEliminarAbraço grande, meu amigo.
Estas matérias deveriam ser dada e discutidas obrigatoriamente nas escolas, para que se não esqueça de que são capazes as ditaduras.
ResponderEliminarEm como a minha amiga diz, há sempre alguém com vocação para "salvar" a pátria.
Bons sonhos, ELVIRA
Querido amigo, eu trabalhei nessa rua onde assassinaram o pintor!
ResponderEliminarA defesa de Abril passa também por não deixar cair no esquecimento as pessoas que lutaram - muitas inclusivamente morreram - para que Portugal viva em Democracia.
Abraço apertado, POETA
Sei o que foi...jamais, jamais!!!!
ResponderEliminarJamais, sim...mas está cada vez mais espesso o caldo de cultura para algo muito desagradável!
ResponderEliminarBeijinhos, Isabelinha
São umas torturas um pouco maricas, deviam ter vergonha de as contar, qualquer pessoa forte aguenta bem. Uma semana no segredo? Passannante passou 10 anos, e eu quando fui preso e me meteram numa cela isolada, disse que estava muito bem e pedi que deitassem a chave fora. Felizmente que vivemos num fascismo bonzinho, não é preciso torturar, basta aumentar-lhe o IRS.
ResponderEliminarPartindo do proncípio que estás falando sério, gostaria de saber mais dessa tua passagem pela PIDE.Foi por isso, que te expulsaram da função pública?
ResponderEliminarConcordo, este regime de democrático já tem pouco...
Fica bem
Eu não brinco, de qualquer maneira é uma história sem interesse, a expulsão da função pública foi mais recente, porque me desinteressei de ensinar (até porque não se ensina nada a ninguém).
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