BALANÇO

Estamos a aproximarmo-nos rapidamente de mais um fim de ano.

O tempo, o nosso tempo, este que compõe a nossa passagem pelo planeta, escoa-se ainda mais velozmente do que areia por entre os dedos da nossa mão cerrada.

Mas o outro tempo, o tempo omnipresente, o tempo intemporal, o tempo sem tempo, esse continua estável e estático, sem sobressaltos nem oscilações.

Por isso, assim canta Argentina Santos, fadista de merecido renome tanto em Portugal como no estrangeiro, "Dizemos de vez em quando que o tempo vai passando, afinal nós é que passamos e o tempo vai ficando".

É habitual nesta época realizar um balanço acerca do ano decorrido . Não me parece ser uma tarefa agradável.

A nível mundial as tragédias naturais sucedem-se, sem que haja respostas devidas às vítimas. Porém se os milhões de divisas necessárias ao apoio humanitário escasseiam e, para cúmulo, sofrem desvios pelo caminho, abundam verbas astronómicas para o esforço de guerra.

O estilhaçamento do modelo de desenvolvimento ocidental causou feridas profundas em todos os países e as populações estão a ser confrontadas com medidas duríssimas e a imposição de silêncio sobre a crise em nome de não se sabe muito bem de quê. Com a agravante de se estar a onerar de forma brutal o futuro das gerações que virão.

Mais preocupante ainda, e também mais doloroso, é o facto de os responsáveis pelo descalabro não terem sido punidos. Como se não fosse suficiente, os Governos insistem, insistem e insistem no mesmo modelo, nas mesmas soluções, nos mesmos erros.Os povos começam a dar sinais de impaciência, manifestações, greves, distúrbios. Em Portugal, a 24 de Novembro deste ano, as duas centrais sindicais conseguiram ultrapassar as suas divergências e uniram esforços para a concretização de uma Greve Geral.

As guerras continuam, as torturas continuam, a fome  continua. Cada vez mais aumenta o profundo abismo entre os muito pobres e os imensamente ricos.

Quando se tem o interesse e o cuidado de nos informarmos, descobrem-se infãmias de gelar a alma e o coração quase deixa de bater face a tanta perfídia.

A democracia é um véu de hipocrisia sob o qual se maquinam os mais graves crimes e as maiores mentiras e traições. Das ditaduras ainda existentes, nada se pode esperar de positivo, infelizmente...mas, essas, pelo menos, não enganam!

Não quero, no entanto, acabar sem dizer que acredito plenamente numa reviravolta desta situação.

As pessoas, a determinada altura, erguer-se-ão e acontecerá - aí sim - a Primeira Guerra Mundial. Porque o sofrimento e o saque estão cada vez mais à beira do insuportável.

Um 2011 com saúde e paz vos desejo.

NOTA: O texto foi publicado na imprensa regional em Dezembro 2010.